quinta-feira, 30 de abril de 2009

Intervenções_Identidade Social na Adolescência

Re: Sintese dos recursos de aprendizagem disponibilizados
por Rui Fernandes - Sábado, 4 Abril 2009, 08:06
Concordo com a Paula em relação às sínteses apresentadas, pelo que me permito fazer um comentário pessoal acerca da questão desta actividade, com base na documentação lida, mas não como forma de síntese da problemática. A busca de uma identidade na adolescência é, reconhecidamente, um processo atribulado, mais ou menos, rebelde, resultado de todo um percurso que envolve períodos de crise ou de exploração e os momentos em que se devem começar a assumir compromissos mais sérios, seja em termos profissionais, pessoais ou familiares. As etapas percorridas na procura da identidade são vividas de formas diferentes, consoante as interacções e os envolvimentos sociais, familiares, económicos que rodeiam os jovens, mas também o seu desenvolvimento intrínseco em termos físicos e mentais.É aceite, nos dias que correm, que este processo de aquisição de uma identidade não se conclui com o final da adolescência mas com a definição de uma carreira profissional e com uma estabilidade económica assegurada. Isto pode revelar-se preocupante e gerar problemas sociais graves já que, hoje em dia, são estimulados os desempenhos por objectivos, não há empregos fixos, pretende-se que ninguém tenha emprego e estabilidade económica assegurada para toda a vida. Ora, isto não poderá levar a dificuldades acrescidas na busca de uma identidade? Não levará a que os indivíduos só consigam alcançar essa identidade muito mais tarde na vida? Teremos "velhos" adolescentes? Ou a hostilização social e a rebeldia vão extrapolar-se e atingir para além de pais e questões menores (como as questões quotidianas da roupa, do frio, dos estudos...), toda a sociedade e questões mais graves de conflitualidade grave e criminalidade? Este é um aspecto preocupante, no meu entender, que deve merecer a nossa atenção e dedicação, pois numa fase de afirmação pessoal como esta, todos os factores de estabilidade, que cada vez existem menos, são muito importantes. Cada vez é mais difícil responder à questão "quem sou eu?". Será que pode ser isto que causa desinteresse nos nossos jovens, por exemplo, na escola? A perspectiva de não contar com um futuro certo, desinteressando-se das actividades escolares, considerando que "aquilo" não serve para nada?...Também a comunicação é um aspecto interessante de analisar nesta procura da identidade social. Os adolescentes, nomeadamente, na internet utilizam uma linguagem muito simplificada e com características tecnológicas distintivas que os colocam à margem de outros comunicadores. Não exige grandes conhecimentos. O grande problema é que. mais uma vez pela experiência profissional, este tipo de linguagem levanta dificuldades no entendimento da escrita como ela deve ser feita, conduzindo os jovens a erros permanentes e a escrita incorrecta quando estão fora do âmbito da internet. Constroem as suas páginas e os seus blogues, onde a comunicação parece ser mais fácil. Nos estudos que tivemos oportunidade de ler, verifica-se que a evolução pode levar a algumas diferenças na comunicação mas que parecem diluir-se noutros estudos. Julgo que, hoje em dia, podemos falar em muitas semelhanças. Naturalmente, há diferenças, os homens tendem a utilizar os emoticons mais com mulheres do que com homens, as mulheres são mais delicadas na escrita, mas o grande resultado é que em ambos os casos, a internet é utilizada porque todos acham que a possibilidade de anonimato lhes confere um poder de transmitir a informação que desejam dar a conhecer, sem terem de rebelar a identidade. Isso permite que as pessoas divulguem aspectos da sua vida pessoal que, de outra forma, não conseguiriam dar a conhecer. Mas as diferenças são cada vez menos significativas.É verdade que os indivíduos se revelam na internet como em nenhum outro local seriam capazes de fazer, como o é que a construção de identidade se faz muito pela comunicação virtual. Também todo o meio tem a sua influência, bem como os valores, a educação e todas as interacções de amizade. Mas tenho como ideia base que a grande fatia tem a ver com factores genéticos de personalidade, daquilo que cada um parece trazer "escrito" no seu código. Depois, pode "perder-se", "encontrar-se", optar por este ou aquele caminho, mas há sempre uma base daquilo que cada um parece ter definido à priori como caminho a percorrer. Poderá esta opinião ser questionada, naturalmente, mas não consigo deixar de pensar em duas pessoas que conheço bem, do mesmo sexo, idades aproximadas (2 anos de diferença) educadas com os mesmos valores, o mesmo meio envolvente, os mesmos contactos de amizade, a mesma família, os mesmos meios e formas de comunicação e linguagem, as mesmas regras sociais, o mesmo estatuto económico e que vão manifestando identidades muito diferentes... RF
Fórum A2 -> Síntese dos recursos de aprendizagem disponibilizados -> Re: Sintese dos recursos de aprendizagem disponibilizados por Pedro Coelho do Amaral - Domingo, 12 Abril 2009, 12:46
Para reforçar a ideia que os adolescentes projectam a sua identidade através dos novos meios digitais, diferentes estudos tentam compreender e analisar quem o faz, como o fazem e porquê o fazem. Dos diferentes estudos a que tive acesso são retiradas algumas conclusões bastante interessantes e que demonstram que os meios digitais (ainda numa fase embrionária face às possibilidades tecnológicas que se adivinham), assumem-se como ferramentas de comunicação e socialização complementares aos meios tradicionais e perspectivam uma revolução paradigmática no desenvolvimento dos processos de construção da identidade. Eis alguns exemplos:
Segundo Amanda Lenhart, investigadora principal do estudo "Teen Content Creators and Consumers "Para os adolescentes americanos, os blogs funcionam como uma forma de auto-expressão, socialização, um meio para construir relações e uma forma de marcar a sua presença on-line.” Na sua definição de criadores de conteúdos, a autora do estudo descreve os adolescentes como construtores activos de páginas web ou blogs, que partilham os seus conteúdos originais criativos ou misturam conteúdos que encontram on-line projectando-os em novas formas de criação que funcionam como uma palete para a afirmação das suas personalidade.
Mary Madden co-autora do estudo refere que a mistura de conteúdos criativos é uma das formas através das quais os adolescentes colocam um carimbo pessoal nos seus trabalhos, numa fase das suas vidas em que estão essencialmente focados em estabelecer a sua identidade.
Os autores referem ainda que os adolescentes que possuem ou acedem a blogs, não comunicam com estranhos, desmistificando uma das ideias feitas sobre a sua imaturidade e os perigos da socialização on-line: " Para os jovens, o objectivo (dos blogs) é reforçar e manter relações de amizade e não ler sobre a opinião de estranhos.”
http://www.pewinternet.org/~/media/Files/Reports/2005/PIP_Teens_Content_Creation.pdf.pdf
http://www.pewinternet.org/Media-Mentions/2005/Teens-Dont-Blog-With-Strangers.aspx
Outro estudo observa o exponencial aumento de adolescentes que criam ou utilizam blogs – de 19 % em 2004 para 28% em 2006 e com clara tendência para aumentar. Esse estudo indica que são as raparigas, a força empreendedora deste acréscimo significativo (dois terços dos adolescentes que utilizam blogues são raparigas) e que o fazem com o objectivo de reflectir sobre a sua vida, em particular sobre a escola, amizades e a sua vida para lá dos muros da escola. Os seus blogs são parte diário, parte procura do seu eu através da interacção social com os seus amigos, parte iniciadores de conversação e de uma forma geral mais propensos (em comparação com os blogs criados por rapazes) para revelar as suas emoções do que descrever acontecimentos. Dos diferentes depoimentos referenciados destaco estes:
"It's just a little easier than talking about your feelings to write about it," says Taranto, 17. "Then it's easier to talk about it."
"i feel like there is this gaping hole that i just cant fix. i dont even know why the hole is there. i have a great family and great friends. the only thing that is missing is someone who loves me, but i dont even think that is causing this hole. it just hurts so bad sometimes." (Taranto, Jan. 30)
http://www.boston.com/lifestyle/articles/2008/04/05/dear_blog/
Para finalizar um estudo interessante sobre um paradoxo que contrapõem o facto de os adolescentes passarem um considerável tempo da sua vida a escrever (mais que os seus progenitores), mas não consideram o que escrevem em ambiente digital como verdadeira escrita, ferramenta fundamental para o seu futuro.
Como se afirma no estudo “ Os adolescentes sabem que escrever é importante. A maioria sabe que a escrita informal que actualmente praticam não será sustentável quando se tornarem adultos. No entanto, retiram grande prazer em desenvolver um estilo pessoal e informal de escrita como uma forma de expressar e distinguir o que realmente são.”
Outra questão importante é o prazer em descobrir e dominar as ferramentas tecnológicas da escrita e os mecanismos de comunicação on-line, distinguindo-se dos outros.
“There are all sorts of things in texting that you can put [in]. Like you can put an exclamation mark in the beginning and the end, or a question mark, or a smiley face, or all caps to show you are yelling. – 11/12th Grade Girl, Pacific Northwest City.”
http://www.pewinternet.org/Reports/2008/Writing-Technology-and-Teens.aspx

Pedro Coelho do Amaral
Fundamentação da escolha efectuada

A escolha da 1ª intervenção do meu colega Rui Fernandes resulta do facto de este expor uma visão pessoal fundamentada do tema em discussão. Não se limitando ao assunto proposto levanta um conjunto de dúvidas e questões pertinentes que, no momento que foram proferidas, funcionaram como um elemento de elevação e motivação da discussão no Fórum.
A escolha da segunda intervenção da minha autoria espelha, em conjunto com outras por mim feitas ao longo deste percurso, um aturado trabalho de pesquisa de fontes de informação adicionais que penso terem contribuido, pela pertinência das temáticas, como uma mais-valia na discussão no Fórum. Considerando que a recolha, análise e reflexão de outros recursos educativos, para além dos propostos, é um dos objectivos e mais-valias deste tipo de ensino, considero que esta intervenção se revelou importante e demonstra uma procura de conhecimento adicional sobre a temática abordada.
Pedro Coelho do Amaral

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