terça-feira, 30 de junho de 2009

Análise e reflexão final pessoal sobre o percurso realizado


Reflexão final:

Ao longo deste percurso, que se estendeu por cinco actividades e termina agora nesta reflexão final, torna-se para mim claro que saio hoje bastante mais sensibilizado e esclarecido sobre um conjunto de questões importantes relacionadas com os media digitais e a construção da identidade e socialização dos jovens. Esse despertar, proporcionado pelos termos abordados nesta disciplina, teve o efeito de alterar a minha perspectiva enquanto professor e educador. Pouco disponível para os novos contextos digitais na sua vertente de socialização e comunicação, fui aprendendo através das actividades propostas a compreender e aceitar a sua importância e influência na vida daqueles com que lido diariamente. Como é do senso comum, o desconhecimento de uma determinada realidade potencia a que sobre ela sejam feitos juízos de valores. Reconheço nesse sentido, e isso torna-se claro ao longo das minhas intervenções, que a distância e espírito critico que mantinha face às novas formas de construção da identidade social dos adolescentes foi-se se esbatendo ao longo deste trajecto. No entanto, e em defesa da verdade, considero que, apesar de compreender e aceitar como referi, o facto dos jovens de hoje se construírem enquanto indivíduos em novos espaços virtuais, a verdade é que sinto, como genuíno emigrante digital que sou, uma atitude critica face à completa benignidade destas novas ferramentas.
Umas das principais conclusões que retiro, e que foi inúmeras vezes discutidas em sede de fórum, passa pela necessidade da sociedade estabelecer pontes que encurtam o fosso geracional por inúmeras vezes referido. A palavra-chave passa pela educação para a cidadania numa nova sociedade virtual, ensinando as crianças e adolescentes a adquirir as competências que lhes permitam navegar nos aspectos positivos e negativos deste novo mundo. Não sou ingénuo o suficiente para afirmar que vivemos na era de todos os perigos ou que as novas tecnologias conduzem a comportamentos alienantes. No entanto, considero que, em inúmeros casos, os meios digitais potenciam esses factores de risco. E potenciam ainda mais porque os adultos, ao contrário de gerações anteriores em que os rituais de construção da identidade e da socialização eram mais ou mais semelhantes de geração em geração, não se encontram preparados para acompanhar e compreender esse fenómeno. Por o que acima referi, esta consciencialização e compreensão da necessidade de uma atitude pró-activa face a esta realidade foi um dos aspectos que retiro como mais importante neste percurso.
Relativamente à forma como decorreu o processo ensino-aprendizagem só posso referenciar aspectos positivos. As actividades propostas foram apresentadas de uma forma progressiva, encadeada, sem ser excessivamente exigentes ao nível da gestão do tempo, mas obrigando a um trabalho contínuo de pesquisa, análise e reflexão. Utilizando uma filosofia baseada no currículo em espiral de Brunner muitos dos conceitos que abordamos de uma forma mais superficial em determinada actividade, foram posteriormente trabalhados de uma forma mais aprofundada e complexa. O facto da disciplina apresentar um fio condutor em que as actividades foram sendo encadeadas permitiu que o conhecimento tivesse um encadeamento lógico, culminando com uma actividade prática de análise. Numa breve análise podemos afirmar que se numa primeira fase descobrimos que existe um novo tipo de adolescente, e consequentemente um novo tipo de estudante digital e percepcionamos a forma como este aprende, socializa, comunica, expressa-se, joga, partilha, etc , ficamos também a saber que este novo processo não é de forma alguma pacífico. Compreendemos que o fosso geracional e a incapacidade da sociedade como um todo para compreender o que é o jovem do século XXI é uma questão transversal que deve ser discutida e analisada. Posteriormente aprendemos e reflectimos sobre o que é ser adolescente, compreendendo que esta fase vital da vida de um ser humano é um processo complexo de procura e construção da identidade. Ficamos a perceber que os novos espaços de socialização reflectem, espelham, moldam e influenciam esse conturbado processo. Compreendemos que nesses espaços os jovens plasmam um conjunto de marcas identitárias ao utilizarem uma linguagem própria, esforçando-se por se afirmar perante os outros, aprendendo normas e regras sociais, entre muitos outros aspectos. Todo este trabalho introdutório, fruto de uma investigação aprofundada permitiu adquirir as competências necessárias para estar à altura de elaborar um trabalho prático de investigação e analisar/reflectir sobre as suas conclusões.
Fazendo um flashback final sobre este percurso, posso ainda afirmar que as aulas decorrem de uma forma bastante positiva, nas quais aos momentos de reflexão individual se sucederam momentos de trabalho em grupo, tão importantes para nos retirar do isolamento natural deste ensino à distância. O trabalho pessoal desenvolvido ao longo deste trajecto foi duplamente intenso e motivante razão pela qual reuni num só documento as minhas intervenções no forum. Ao todo são 27 páginas (não incluem as reflexões e comentários postados neste blog) que representam uma enorme vontade em participar e compreender este tema e uma procura de outros recursos educativos. Por estes motivos considero este percurso como um factor de enriquecimento pessoal e profissional. Ainda para mais porque no decorrer deste processo acumulei em conjunto com o mestrado a frequência da profissionalização em serviço. Esse facto obrigou-me a um esforço enorme na tentativa de conseguir participar em todas as solicitações a que estive sujeito (8 unidades curriculares no seu todo). Penso no entanto, que termino este percurso com a sensação de dever cumprido. PDF_Participações
Termino, assim como comecei este percurso, com uma afirmação de Sherry Turkle do seu livro A vida no Ecrã, que escolhi para o trabalho de grupo sobre o estudante digital. Apesar do livro datar de 1995 (e terem passado muitos anos depois de o ter lido), numa altura em que a internet dava os primeiros passos e em que os média digitais estavam ainda no seu começo ou nem sequer existiam, a afirmação representa muito daquilo que estudamos e discutimos neste espaço.

Quando atravessamos o ecrã para penetramos em comunidades virtuais, reconstruímos a nossa identidade do outro lado do espelho.
Sherry Turkle. A vida no Ecrã (1995)‏

Pedro Coelho do Amaral


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