sexta-feira, 26 de junho de 2009

Intervenções_Análise da Identidade em Sites Sociais

Fórum A4 -> Discussão Conjunta -> Re: Discussão Conjunta por Pedro Coelho do Amaral - Sexta, 12 Junho 2009, 01:48
Boa noite,
A leitura e reflexão das grelhas de análise de marcas identitárias em sites sociais de jovens desenvolvidas pelos diferentes grupos permitem estabelecer um conjunto alargado de teias de relações com os diversos recursos educativos previamente discutidos. Sabemos de leituras anteriores que a identidade é uma tarefa central do desenvolvimento do ser humano que se prolonga por todo o ciclo da vida. No entanto é na adolescência que este processo assume uma importância particular pois é nesta fase de transição entre a infância e a vida adulta que os jovens, como teorizou Erikson (in Schmitt e Dayaminn, 2008), enfrentam o desafio da auto-definição e da formação da identidade e começam a desenvolver a noção de quem são, estabelecendo objectivos, opiniões, atitudes. É uma fase em que “ estão constantemente a tentar responder à questão Quem sou eu? enquanto utilizam as percepções de outros e de si próprios para ajudar a definirem-se a si próprios (ibidem)”. Como temos vindo a compreender nesta disciplina, este processo natural de auto-descoberta joga-se hoje em novos contextos, em novos espaços de socialização mediados pelos médios digitais. Como referem Huffaker e Calvert (2005) “À medida que os adolescentes procuram definir quem são (…), os seus fóruns de auto-descoberta se expandiram.” Esses novos fóruns de socialização são hoje diversos, e estão ao alcance dos adolescentes em diferentes formatos, suportes, tecnologias e à distância de um clique ou do carregar de uma tecla. As redes sociais são um desses novos espaços que progressivamente vêm ganhando o seu espaço no dia-a-dia dos jovens e por isso são bastante importantes como ferramenta de estudo desta fase do desenvolvimento humano nomeadamente pela possibilidade, como podemos observar por esta proposta de trabalho, de identificar distintas marcas identitárias que permitam compreender o processo de socialização dos adolescentes. Como refere Recuero (2008, 106) “Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: actores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (Wasserman e Faust, 1994, Degenne e Forsé, 1999). Trata-se, assim, de uma abordagem focada na estrutura social, na qual “individuals cannot be studied independently of their relations to others, nor can dyads be isolated from their affiliated structures”2 (Degenne e Forsé, 1999, p. 3). Neste sentido, o estudo destes sites permite uma visão abrangente do processo de interacção entre o indivíduos e a natureza social das suas interacções. Da leitura das grelhas e das análises existem um conjunto de considerações que penso podem ser generalizadas às diferentes análises propostas: Os jovens utilizam as redes sociais como um processo de afirmação da sua própria personalidade, como um meio para serem aceites pelos seus pares, no qual aprendem as regras e normas de socialização indispensáveis na vida adulta. Nesse sentido, a necessidade de pertença a determinado grupo de amigos revela-se como uma marca identitária muito forte e está presente em inúmeros exemplos. O número de amigos, os comentários, os fives e os grupos a que pertencem são um exemplo claro dessa necessidade, apesar de nem sempre o nº de amigos corresponder ao nº de comentários. Apesar de não existir forma de confirmar esses dados, os autores (na maioria dos casos) revelam a sua identidade, idade, data de nascimento, local de residência (geral) e mantêm um perfil acessível aos restantes utilizadores e excluem os adultos deste espaço de socialização. Os resultados demonstram também que os jovens não têm receio em demonstrar sentimentos seja de amizade seja relações amorosas e demonstram apetência pela auto-reflexão, mas fazem-no perante amizades que já existem fora do ambiente virtual dos sites estudados. Esta leitura parece então confirmar a opinião de Boyd e Alisson (2007) quando estes afirmam que “Apesar de existirem algumas excepções, a pesquisa existente sugere que as SNS suportam primariamente relações sociais pré-existentes. Ellison, Steinfield, and Lampe (2007) sugerem que o Facebook (caso estudado) é utilizado para a manutenção ou solidificação de relações de amizade, e não para se conhecerem novos amigos.” Ao nível da interface gráfica dos sites analisados nota-se algum cuidado na apresentação o que demonstra, como já referimos em posts anteriores, uma forma de valorização perante os outros através da exibição de competências estéticas e técnicas. Nos rapazes notámos uma incorporação de um maior nº de addons (acrescentos) como musicas, vídeos, jogos, etc e uma imagem gráfica mais agressiva quer nos elementos visuais quer nas cores utilizadas. As meninas apresentam, na minha opinião, uma estética mais cuidada, mais criativa e naturalmente mais feminina. Apesar das análises parecerem apontar para uma maior disponibilidade das raparigas para a identificação pessoal, dando mais dados reveladores sobre si próprios e um menor cuidado na privacidade, parece-me que não se poderá generalizar essa análise. Encontrei inúmeros exemplos de sites de rapazes em que estes expõem de uma forma bastante clara os seus sentimentos. Essa observação poderá estar directamente relacionada com mudanças sociais nos comportamentos dos rapazes, tradicionalmente mais reservados. A utilização intensiva e extensiva de fotografias é outro aspecto transversal aos diferentes sites analisados, nomeadamente a peculiaridade de algumas poses estudadas, o que demonstra o cuidado na apresentação pessoal e a necessidade de estar bem perante os outros. Ao nível da linguagem ou netspeak (como por vezes é referida) é notório a utilização de uma linguagem criativa, inovadora e híbrida, onde se conjuga formas linguísticas tradicionais e formas adaptadas com o recurso, como já foi referido por diversos colegas, à gíria e ao calão. Estão também presentes acrónimos (ex:lol), variações e jogos de palavras e ecomotions. De uma forma geral a linguagem utilizado pelos rapazes é mais agressiva, mais sexista e com um carácter sexual mais explicito que de certa forma contrasta com uma linguagem mais cuidada, mais polida das raparigas.
Bibliografia:
BOYD, d. m., & ELLISON, N. B. (2007). Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), article 11. http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html Huffaker, D. A., and Calvert, S. L. (2005). Gender, identity, and language use in teenage blogs. Journal of Computer-Mediated Communication, 10(2), article 1. http://jcmc.indiana.edu/vol10/issue2/huffaker.html Recuero, Raquel (2008) Um estudo do capital social gerado a partir de Redes Sociais no Orkut e nos Weblogs Revista FAMECOS Porto Alegre nº 28 dezembro 2005 quadrimestral

Pedro Coelho do Amaral


Fórum A4 -> Discussão Conjunta -> Re: Discussão Conjunta por Pedro Coelho do Amaral - Sexta, 12 Junho 2009, 15:16
Boa Tarde,
Foram levantados neste fórum diversas questões pertinentes das quais destaco duas que considero importantes no âmbito das temáticas abordados nesta unidade curricular. Uma das questões abordadas pelo Rui e pela Paula prende-se com a inexistência ou pelo menos uma certa distância dos adultos no acompanhamento adequado dos jovens quando estes acedem e socializam nas redes sociais que analisamos e os perigos de segurança inerentes. Outra questão abordada por diversos colegas prende-se com a observação e constatação da falta de hábitos culturais dos jovens, especialmente os baixos índices de leitura e a falta de qualidade ou profundidade do discurso e linguagem utilizada pelos jovens. Em ambos os casos, e concordando de uma forma geral com as opiniões emitidas, encontro a montante duas instituições da nossa sociedade que podem e devem ser parte integrante na resolução das questões abordadas, ou seja, a família e a escola.
Relativamente à 1ª questão podemos relacionar a questão da segurança e a questão da necessidade de formação dos nossos jovens nestes novos espaços de aprendizagem e socialização. A questão da segurança na Internet é hoje um assunto transversal, que perpassa todos os contextos da actividade humana, quer seja observada numa perspectiva profissional, comercial, social, familiar ou mesmo educacional. Este admirável mundo que é a Internet, como todos sabemos, não é um mundo neutro, despojado de inconvenientes ou perigos. Acima de tudo é o espelho da sociedade, um retrato fiel das diferentes facetas do ser humano. Uma enorme rede de conteúdos onde, lado a lado, podemos encontrar inúmeros e eloquentes exemplos do génio humano, de altruísmo, de talento, de criatividade e, no extremo oposto, a mais profunda das misérias, o mais hediondo dos crimes, o mais vil dos actos. Para lá da superfície, da epiderme da web, dos espaços de comunicação, informação e socialização escondem-se zonas escuras, marcadas por perigos que vão muito para além de questões mais mediáticas relacionados com vírus, burlas económicas ou falsas informações. Se considerarmos a perspectiva da segurança da internet para as crianças e jovens, os perigos podem incluir coisas tão diversas como o contacto com estranhos, a falta de privacidade, o ciberbulling, a pornografia on-line, os riscos de atitudes viciantes face à internet ou ao jogo online, as ciberameaças, os jogos violentos, a pertença a determinados grupos e ideais, entre inúmeros outros factores. É neste mundo dicotómico, onde os conhecimentos, os valores e as atitudes positivas e negativas convivem lado a lado, que os nossos jovens vivem e interagem grande parte dos seus dias. A grande maioria dos jovens, especialmente os adolescentes, olha para a Web, e neste caso para as redes sociais, como um mundo só seu, uma espécie de quarto do qual só eles possuem a chave. Um espaço de liberdade e procura da maioridade desejada, no qual, afastados do olhar inquiridor ou reprovador dos adultos, podem comunicar, socializar, explorar e aprender aquilo que não lhes é ensinado na escola ou em casa. No fundo um novo recreio onde construem e moldam as suas personalidades em construção, onde se afirmam perante os seus pares, onde procuram a validação social e aprendem as normas e regras sociais indispensáveis à entrada na vida adulta. Este sentimento ou necessidade de emancipação e libertação face aos adultos é algo de intrinsecamente natural no processo de desenvolvimento de um jovem. Assim como é natural que sintam que o controle ou até o auxílio nas suas actividades online por parte dos adultos é completamente desnecessária, intrusiva e evitável. Apesar de, como referi, os jovens consideram não necessitar dos mais velhos torna-se óbvio que os adultos, em especial os pais e os professores, não se podem alhear, ausentar das suas responsabilidades na educação e, neste caso em particular, da educação para a socialização on-line. Quando são muito jovens, as crianças necessitam que os adultos estabelecem regras e limites e que definam os espaços online, isentos de perigos, onde possam navegar. À medida que crescem e as solicitações sociais aumentam, necessitam que os pais os ajudem a adquirir os conhecimentos, as competências e os valores necessários, indispensáveis para a tomada de decisões conscientes, responsáveis e seguras nas suas interacções on-line. No entanto, à medida que as crianças crescem, essa mediação deve ser negociada, partilhada e explicada. Só assim, os jovens poderão compreender verdadeiramente as razões que estão por detrás das preocupações dos adultos. O impedimento total dos pais ou dos professores no acesso à internet e aos seus conteúdos e a obsessão pela privacidade dos jovens, não será certamente a resposta mais adequada para enfrentar este desafio. Como refere Boyd (2008, 137) “By allowing us to have a collective experience with people who are both like and unlike us, public life validates the reality that we are experiencing. We are doing our youth a disservice if we believe that we can protect them from the world by limiting their access to public life. They must enter that arena, make mistakes, and learn from them. Our role as adults is not to be their policemen, but to be their guides.”
Relativamente à segunda questão relacionada com a falta de hábitos de leitura e de competências linguísticas, aos quais acrescento a ausência de algumas regras básicas da vida em sociedade como a boa educação, a verdade é que a resposta a isso encontra-se mais uma vez nas duas instituições acima referidas. Se analisarmos a questão de um ponto de vista de outros enquadramentos teóricos sobre o desenvolvimento humano (como o modelo Transacional de Sameroff ou Bioecológico de Bronfenbrenner) sabemos que o desenvolvimento de um indivíduo resulta das transacções e dos diferentes sistemas com os quais interage. Nesse sentido podemos compreender que um adolescente e a sua identidade emergem, entre outros factores, do contexto educativo e familiar em que estão inseridos. Para abarcarmos todo o universo desenvolvimental e situacional do aluno, as suas escolhas, os seus interesses, os seus ritos, as suas expectativas, as suas crenças, os seus valores, a sua cultura, o seu saber académico, enfim, a sua vida, temos que considerar todos os níveis, variáveis e sistemas que influenciam e contribuem para a indissociabilidade das relações e compromissos entre cada factor num determinado momento e contexto temporal, social, cultural. Nesse sentido cabe à familia e à escola proporcionar as condições, as ferramentas para que os adolescentes sintam a necessidade de serem melhores, mais competentes, mais instruidos. Creio que atribuir as responsabilidades da falta de conhecimento ou interesse cultural somente aos adolescentes é algo de profundamente errado. Devemos procurar nos modelos que, nós adultos, estamos a trasmitir às gerações mais novas. Grande parte da aprendizagem baseia-se na observação e identificação com os modelos, nomeadamente sociais, como a nossa família, os amigos, os professores, etc. Bandura através da sua teoria da aprendizagem social refere que as pessoas, em especial os jovens, podem aprender novas respostas e comportamentos observando simplesmente o comportamento dos outros. Se o comportamento das gerações mais velhas não promove o valor do conhecimento é mais que natural que os adolescentes seguiam os seus modelos.
Pedro Coelho do Amaral
Fundamentação da escolha efectuada
A escolha da 1ª intervenção resulta do facto de esta expor, de uma forma fundamentada, as principais conclusões retiradas dos trabalhados analisados.
Não me limitando a elencar os resultados obtidos, tentei nesta intervenção estabelecer as teias de relação entre as principais conclusões e as diferentes matérias abordadas nesta disciplina e, mais uma vez, fundamentar as opiniões e acrescentar novo conhecimento. Por esse motivo considero que acabei por demonstrar neste post que consegui atingir os objectivos e competências proposto por esta unidade curricular.
A 2ª intervenção, apesar de fugir um pouco ao tema, surge após um processo de maturação relativo à questão da segurança na Internet e à questão do deficit cultural dos jovens. Como sabemos esses temas foram de forma intensiva e extensiva abordados, em diferentes momentos e locais, ao longo desta unidade curricular.
Penso que as opiniões e argumentos demonstrados nesta intervenção representam uma opinião fundamentada, resultado de um processo de reflexão pessoal e visa contribuir para uma visão mais esclarecidas dos temas abordados.
Pedro Coelho do Amaral

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